quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Deus, uma lembrança?

A reportagem é de Marília de Camargo César e publicada pelo jornal Valor, 28-01-2011.


Onde estava Deus enquanto as encostas da serra fluminense despencavam, acabando com a vida de tanta gente? "Se é onipotente, onisciente e onipresente, por que nada fez? Estava dormindo?"

Resposta desse expoente:

Se, não! Deus é sim onipotente, onisciente e onipresente. A onipotência de Deus é um atributo que mostra que seu poder é ilimitado e que tem poder de fazer qualquer coisa que queira, podendo levar a efeito qualquer coisa que deseje (Gn 18.14; Jó 42.2; Sl 93.4, 155.3; Jr 32.17). Já a sua onisciência, ou seja, a capacidade de saber de todas as coisas esta presente na natureza auto-exististe de Deus, eterna, imutável, perfeito em ciência e sabedoria. Isaías disse que o seu entendimento não se pode medir (Is 40.28). Ele não só possui a perfeita sabedoria, pois Ele mesmo é o manancial de toda ela. (Jó 11.7,8; Sl 147.5; Rm 11.33). O atributo da onipresença de Deus está intimamente ligado à sua onisciência e onipotência. Só Deus possui estes três “onis”. Por sua onipresença, é que Deus está em todos os lugares. (Sl 139.7-12)

Deus dormindo? Segundo Rubem Alves, teólogo, filósofo, psicanalista, colunista da "Folha de S. Paulo" e ex-pastor protestante é nesse estado que o Soberano se encontra quando grandes tragédias acontecem. Se isso fosse verdade Deus estaria dormindo a todo instante, posto, que tragédias acontecem a todo tempo. A saber, Deus nunca esteve não está e jamais estará dormindo, posto que antes mesmo que tudo fosse criado por ele e para ele a Palavra do Senhor nos revela que o Espírito de Deus já se movia sobre a face das águas (Gn 1.2). Desde o princípio que Deus trabalha em nosso favor.

A indignação não estaria mirando o alvo errado? Não são os seres humanos os responsáveis pela tragédia, por causa de decisões erradas? "É engano dizer que as coisas estão acontecendo apenas por nossa responsabilidade - isso é coisa da natureza -, o mundo inteiro está assim - na China é o gelo, na Europa, as chuvas -, o mundo está de cabeça para baixo! Se Deus amasse realmente o mundo, ele tomaria uma providência. Em primeiro lugar, ele mataria as pessoas certas. Ele está com a pontaria péssima - se fosse meu empregado, já estaria demitido há muito tempo - incompetência administrativa." 

O problema do ser humano é sempre querer achar um culpado para as catástrofes. O Governo Federal culpa o Governo Estadual que por sua vez culpa os prefeitos e por ai vai. E é nesse jogo de empurra-empurra que aparecem esses culpando a Deus. Quando o homem é o verdadeiro culpado.

Pois, o sofrimento é fruto do nosso pecado e não da falta de amor de Deus, posto que, o mesmo nos ama incondicionalmente. Se o homem não tivesse caído não teria existido também o pecado. Sendo assim, o pecado é fruto da queda do homem e por isso somos concebidos em pecado ao nascermos com uma natureza corrompida num mundo que está gemendo açoitado por muitas agruras.

O sofrimento é a conseqüência inevitável do pecado. O pecado é como uma fonte poluída de onde flui copiosamente o sofrimento. O pecado é o solo onde crescem os espinheiros do sofrimento. O pecado é como um anzol que por trás da isca do prazer esconde a carranca do sofrimento e da morte. O sofrimento é um aviso que precisamos de socorro, há uma doença muito rara chamada Alopécia Total onde o indivíduo não sente nenhuma dor, em decorrência disso, não sabe que está ferido, por conseguinte, não pede ajuda.

A dor é uma defesa do nosso corpo, sempre que ela aparece corremos atrás de socorro. Se não houvesse a dor nós sucumbiríamos subitamente sem  a mínima chance de buscarmos  socorro. A dor é uma trombeta; o sofrimento, um aviso solene de que é impossível transgredir os preceitos de Deus sem sofrer as devidas conseqüências. Se  a violação de uma lei física desencadeia uma conseqüência inevitável, assim também, a violação dos preceitos morais e espirituais deságua em sofrimento atroz. Muitos tentam abafar a voz da consciência e outros tentam negar a dor, mas mesmo aqueles que amortecem os efeitos da dor nesta vida, jamais poderão ficar incólumes do sofrimento eterno.

O sofrimento é uma escola onde devemos aprender com ele e não tentar arrancá-lo dando cabo da própria vida. Os sofrimento nos apresenta de muitas formas, físico, emocional, psicológico, espiritual, etc...Há sofrimentos emocionais e espirituais, que nos fustigam muito mais que os físicos. E não são poucas as pessoas que se revoltam contra Deus culpando-o pelas intempéries da vida – como o escritor em questão. Como fez a mulher de Jó ao lhe dar um conselho que não deve ser seguido. (Jó 2.9). 

O sofrimento deve nos tomar pela mão e nos ensinar a viver com mais sensibilidade e sabedoria em vez de nos enclausurar na cova existencial da morte. O rei Davi disse: “Foi me bom passar pelo sofrimento, para que eu aprendesse os teus decretos” (Sl 119.71). É preciso deixar claro que nem todo sofrimento é fruto de um pecado específico ou de um castigo. O homem que nasceu cego estava sofrendo não por causa do seu pecado ou do pecado de seus pais, mas para que nele se manifestasse a glória de Deus (Jo 9.1-9). Nesse mundo passamos por aflição e importa que entremos no Reino de Deus por meio de muitas tribulações.

O sofrimento desta vida não se pode comparar com o gozo que desfrutaremos na eternidade. O sofrimento deve ser visto à luz da eternidade. O sofrimento do justo é passageiro e suave quando comparado com as glórias por vir a serem reveladas nele. Nós temos uma boa esperança e uma consolação eterna.

Aqui pisamos estradas crivadas de espinhos, mas, então, pisaremos ruas de ouro e cristal. Aqui nossos olhos ficam inchados de tanto chorar, mas, então, Deus enxugará dos nossos olhos toda a lágrima. Aqui, nós sofremos pela escassez, pela fraqueza, pela enfermidade e pelo luto, mas, então, receberemos um corpo de glória, semelhante ao corpo de Cristo. Aqui, vivemos como estranhos e peregrinos, mas em breve, mudaremos de endereço e viveremos na Casa do Pai, no Paraíso, na Nova Jerusalém, na Cidade Santa, onde a dor, a morte e o luto jamais entrarão.

O sofrimento é um cálice amargo, mas ele findará; então, beberemos das fontes da água da vida, que jorram sem cessar do trono de Deus. Diante da carranca do sofrimento presente, podemos erguer a nossa voz e dizer como o apóstolo Paulo: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (2 Co 4.17).

"A saudade é arrumar o quarto pro filho que já morreu". E pergunta: "Qual é a mãe que ama mais, aquela que arruma o quarto para o filho que vai chegar amanhã ou a que arruma para o filho que não vai chegar? Você pode amar uma coisa que não existe. Para mim, é assim, Deus é meu filho que não existe, é meu pai que não existe".

O verso citado por Rubem de “Pedaço de mim” de Chico Buarque é bastante pertinente nessa análise, porém ele o vê por um prisma totalmente errado. A exemplo da mãe Deus é um pai que tem preparado não uma cama, mas sim uma grande morada para nos, e tamanho é o seu grande amor que enviou o seu filho unigênito para que assim pudéssemos ter acesso a ela. “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar” (Jo 14.2). Isso sim é amor.

A paz seja com todos,

Anderson Ribeiro

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